MESTRADO Data de Publicação: 12 jul 2024 10:39 Data de Atualização: 12 jul 2024 12:16
No mês de junho, o Câmpus Urupema atravessou mais um momento histórico: Thais Gobbi Dalvi Gaudio se tornou a primeira mulher mestre em Viticultura e Enologia pelo Câmpus Urupema. Ela defendeu, no último 13, a dissertação "Viabilidade técnica e econômica para a implantação de um vinhedo de uvas Vitis vinifera com elementos tecnológicos da agricultura 4.0, irrigação e cobertura no município de Urupema/SC", que foi orientada pelo professor Tiago Henrique de Paula Alvarenga.
A banca de defesa foi formada pelos professores Carolina de Pretto Panceri (IFSC), Leonardo Cury da Silva (IFRS) e Otávio Dias da Costa Machado (IFRS). O curso de mestrado em Viticultura e Enologia é ofertado na parceria do Câmpus Urupema com o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) Câmpus Bento Gonçalves. Outras alunas já haviam concluído o curso pelo IFRS. Em março, o aluno Daniel Trento do Nascimento foi o primeiro aluno do IFSC a defender sua dissertação.
"Quando passei no processo seletivo, fiquei muito feliz e lisonjeada por participar da primeira turma do mestrado profissional de um setor que cresce tanto no nosso país. Me senti muito privilegiada em fazer parte do seleto time de 27 mestrandos, sendo que apenas 7 deles no IFSC. Além disso, senti a responsabilidade por fazer bonito, afinal de contas somos a primeira turma e estamos fazendo história pelo Instituto Federal. Em nossa turma éramos minoria, apenas três mulheres", lembra Thaís. A agora mestre cita que em Santa Catarina há a característica de muitas mulheres participando do setor de viticultura e marcar a história dessa maneira deixa Thaís com um misto de alegria e responsabilidade. "Quando soube que seria a primeira mulher a defender o título fiquei super feliz e me sentindo responsável, afinal de contas a gente sempre representa muita gente. Mulheres que gostariam de realizar um sonho, e não tem coragem, seja lá por qualquer que seja o motivo, é desafiador sim, pois precisamos nos impor diante de muitas situações principalmente quando falamos no trabalho de campo, mas é muito gratificante mostrar que é possível. É sempre uma responsabilidade e eu espero que muitas mulheres se inspirem na minha história, virem a chave para realizar seus sonhos", comemora.
A professora Carolina Panceri, que esteve na banca e também lecionou durante o curso, conta que a estudante sempre foi crítica e participativa. Segundo ela, era perceptível a vontade pelo conhecimento para logo por em prática no seu projeto. Carolina ainda participou da co-orientação do trabalho ao lado do professor Tiago, principalmente no momento de definição do tema e objeto de estudo. "Como professora participei do processo de formação da Thais durante o curso de mestrado, ministrando aulas nas temáticas de Enologia, tanto no âmbito da produção como em análises de controle de qualidade e tendências e inovações da área. Vê-la defender sua dissertação foi um momento importante, pois os dados gerados e principalmente o produto tecnológico resultante do estudado são valiosos para a cadeia produtiva e poderão auxiliar muitos produtores na hora de decidir por investir na Vitivinicultura na Serra Catarinense", comemora a professora.
A professora Carolina também é Chefe do Departamento do Ensino, Pesquisa e Extensão do Câmpus Urupema. Ela define o momento de conclusão de curso dos estudantes como sempre um motivo de comemoração e alegria, pois é onde se sabe que o IFSC está contribuindo com a sociedade e formando profissionais qualificados e atualizados frente aos desafios atuais do mercado e demandas do arranjo produtivo local. "A Thais foi a primeira mestranda mulher a defender sua dissertação no programa de mestrado profissional em Viticultura e Enologia do IFSC, o que é mais um motivo para comemorar, pois em uma área que ainda é marcada pela presença majoritária de homens, percebemos que as mulheres tem espaço e podem se tornar referência de conhecimento, técnica e profissionalismo", completa a docente.
O IFSC em sua vida
Natural de Guarapari, no Espírito Santo, Thaís tem 35 anos e é uma dessas mulheres que trabalham na área da Viticultura e Enologia. Formada em Administração e com MBA em Gestão de Projetos, desde de 2020 ela é proprietária de um empreendimento vinícola em Urupema. Casada com Paulo Gaudio um professor, sommelier e chef de cozinha que teve restaurante por mais de 18 anos em Vitória/ES. Foi aí que ela conheceu o IFSC. No início do projeto ela sentiu muita dificuldade de conhecimento técnico, em especial do que se trata em impacto financeiro e achou no mestrado a oportunidade de se qualificar para investir no ramo, que era um sonho do casal. "Como é que eu poderia ganhar esse conhecimento técnico sem ter que morar em Urupema? Uma vez que temos negócios no ES e morar em SC ainda não era viável Então, foi quando eu comecei a buscar cursos e fiquei sabendo que iria abrir a turma do mestrado. Como eu já tinha o curso superior, me candidatei para o mestrado profissional, que para mim era muito interessante, porque eu já tinha um empreendimento e já estava trabalhando no setor, e aí foi quando eu, enfim, me candidatei à vaga e entrei", conta.
A aluna relembra o fator prático do ensino do IFSC, que também pôde ser visto no mestrado. Para ela, fazer o mestrado no mesmo município onde trabalha facilita na hora de colocar em prática experiências. "Levava questões práticas vistas no vinhedo para a faculdade para serem discutidas entre professores e colegas, muito interessante mesmo debater realidades práticas durante o curso. Ter acesso às pesquisas, acesso aos alunos e professores do curso superior, fazer experimentos, avaliar de fato o nosso vinhedo, por exemplo, foi muito enriquecedor para o desenvolvimento do nosso projeto e do município", comenta.
Sobre os impactos do curso de Mestrado Profissional em sua vida, Thaís destaca a importância do êxito na formação como uma espécie de divisor de águas. Para ela, marcou uma transição de carreira. "Eu era uma administradora com muita experiência na área comercial. Com o mestrado me tornei uma uma viticultora criteriosa, uma vinhateira arrojada, elaboro vinhos de alta qualidade e o que me faltava, que era o conhecimento técnico, eu adquiri com o mestrado. Então de fato ele mudou a minha vida profissional. O mestrado marcou minha transição de carreira para o setor completamente", comemora. A profissional destaca ainda que hoje faz eventos, apresenta produtos e de modo geral é reconhecida no meio como a responsável técnica pelo vinho.
"Como coordenador do mestrado Profissional em Viticultura e Enologia, ver a Thais alcançar esse patamar é inspirador e serve como um exemplo para futuras gerações de estudantes. A sua conquista destaca a importância de oferecer oportunidades equitativas e de fomentar um ambiente de apoio e crescimento para todos. Estou confiante de que o sucesso da Thais motivará mais mulheres a se envolverem e a se destacarem na nossa área, enriquecendo ainda mais o campo da Viticultura e Enologia com suas perspectivas e contribuições únicas", comemora o professor Marcos Roberto Dobler Stroschein, coordenador do curso e um dos fundadores do mestrado.
Sobre a dissertação
O orientador da dissertação, professor Tiago Henrique de Paula Alvarenga, conta que Thais chegou no mestrado com bastante energia, com uma proposta inicial para trabalhar com resíduos da vitivinicultura. Porém, durante o projeto essa proposta ficou um pouco inviável de ser trabalhada num prazo de dois anos. "A partir daí, eu como orientador comecei a tentar definir um outro tema para ela. E esse tema foi algo bem ligado à atividade que ela estava realizando naquele momento, que era a implantação do vinhedo e as necessidades que ela teria de observar, que eram as questões técnicas e a viabilidade econômica, e que isso seria mais aplicável à sua realidade", conta Tiago. O papel do orientador, segundo o professor, é esse de direcionar o aluno para uma ideia que ele consiga realizar o seu trabalho dentro do período de duração do mestrado, de 24 meses.
A dissertação "Viabilidade técnica e econômica para a implantação de um vinhedo de uvas Vitis vinifera com elementos tecnológicos da agricultura 4.0, irrigação e cobertura no município de Urupema/SC" levantou todas as variáveis técnicas que impactam nas variáveis econômicas. Foi feita uma análise econômica e financeira de projeção e viabilidade do projeto, que se mostrou bastante viável a longo prazo, desde que tomado alguns cuidados na parte técnica. "Como produto tecnológico eu desenvolvi uma planilha calculadora onde os próximos investidores do setor podem colocar nessa planilha e preencher as suas realidades, e ela já vai calcular automaticamente a viabilidade desses projetos, o que é bastante satisfatório inclusive para investidores e consultores", explica.
A profissional explica que um dos problemas do mercado é saber quando e como ele será viável. Faltam dados factíveis, pois temos variáveis técnicas diretamente ligadas ao clima, do terroir (mistura de clima, solo e chuvas), que vão impactar fortemente em resultados econômicos. Logo muitos investidores hesitam em investir no setor, onde não conhecem as realidades do técnicas do terroir. "Então, com essa planilha calculadora, a gente consegue eliminar essa desconfiança do investidor. E esperamos que venha agregar a muitos novos projetos para Santa Catarina.", complementa. Além disso, o projeto tende a avaliou a utilização de incrementos tecnológicos que impactassem positivamente para produtividade do vinhedo, pois, segundo a pesquisadora, sabe-se que quanto mais produtivo é um vinhedo, mais viável é o projeto dessa vinícola. "Avaliei a utilização de drone pra pulverizações e adubação, irrigação para prevenção contra as geadas tardias, muito comuns em SC e também a utilização de cobertura plástica, que protege contra o granizo e ajuda a aumentar a produtividade. Enfim, todas essas variáveis tecnológicas foram avaliadas e se mostraram viáveis dentro de algumas condições apresentadas pelo projeto", completa.
A dissertação já tem dados seus primeiros frutos. O projeto foi transformado em artigo científico para publicação, submetido e aceito para apresentação no Congresso Mundial da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) 2024, que será realizado em Borgonha, na França, de 14 a 18 de outubro deste ano. "Isso me deixa bastante otimista em, de repente, viabilizar essas novas tecnologias, pois elas ainda são muito caras e muitas vezes não foram pensadas especificamente para o nosso setor. Em especial os drones, ainda não são inacessíveis ao pequeno agricultor e com algumas questões técnicas de adaptação que precisam ser melhor discutidas. Então essa visibilidade dá a devida importância dessas novas tecnologias para o setor e a oportunidade de viabilizar mais parcerias e tornar esses incrementos tecnológicos mais viáveis", completa.
Thaís é só alegria com o que o mestrado no IFSC tem lhe rendido. Essa "virada de chave" tem sido muito importante desde que enveredou pelo ramo do vinho em 2020. "Hoje eu sou referência da vinícola, junto com meu marido, obviamente, mas a imagem da nossa vinícola já não é mais só masculina, hoje dividimos muito bem esse espaço. Nós somos do Espírito Santo, saímos daqui para investir em Santa Catarina, que nos orgulha bastante, unimos dois estados lindos e maravilhosos com o nosso projeto. Nossa vinícola tem quatro anos, tem nove rótulos, todos eles foram premiados esse ano num concurso nacional. E agora, concluindo o mestrado, a gente parte para a abertura e ampliação de mercado. Estamos bastante focados agora no mercado e o mestrado veio para fechar com as chaves de ouro, digamos assim, um ciclo tão importante de início de projeto", conclui.