INSTITUCIONAL Data de Publicação: 15 abr 2020 14:39 Data de Atualização: 06 out 2020 14:13
Desde a implantação dos cursos técnicos em Enfermagem nos câmpus Joinville, em 1994, e Florianópolis, em 2002, o IFSC já formou cerca de mil profissionais aptos a atuarem na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação dos processos saúde-doença. O histórico de sucesso nas aprovações em concursos públicos e de empregabilidade em instituições privadas, além de comprovar a qualidade dos cursos, indica a presença de técnicos em enfermagem egressos do IFSC em boa parte das unidades de saúde de Santa Catarina, especialmente da região Norte do estado e da Grande Florianópolis.
Na linha de frente contra a Covid 19, técnicos em enfermagem, auxiliares e enfermeiros têm papel fundamental no combate à pandemia. “Não apenas em razão de sua capacidade técnica, mas também por se tratar da maior categoria profissional de Saúde, e a única que está 24h ao lado do paciente”, destaca nota do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). Só de técnicos em enfermagem, o Cofen contabiliza 1,3 milhão de inscrições no Brasil.
“E, por aqueles acasos inexplicáveis, 2020 foi escolhido como o ano dos profissionais de enfermagem e obstetrícia pela Organização Mundial da Saúde (OMS)”, lembra a professora Vanessa Jardim, do Câmpus Florianópolis. A ideia da OMS é que esses profissionais conquistassem maior visibilidade e, consequentemente, maior reconhecimento pelo seu trabalho.
É que, por trás de cada máscara e dos demais equipamentos de proteção individual (EPI), existe bem mais que um registro no Conselho Regional de Enfermagem (Coren), obrigatório para o exercídio da profissão. Há um profissional com rosto, identidade, história, família e, principalmente, determinação em fazer o seu melhor, como os cinco egressos do IFSC que apresentamos nesta reportagem: Fernanda da Silva Serpa, Guilherme Luiz Alvarenga da Silva e Jane Terezinha Sgrott do Nascimento, que trabalham no Hospital Municipal São José (HMSJ), em Joinville, e Fernanda Puerari e Giovanna Calderolli, que trabalham em Florianópolis no Imperial Hospital de Caridade e no Baía Sul, respectivamente.
“Costumo dizer que você não escolhe a enfermagem, a enfermagem te escolhe. Lidar com todas as fases da vida é bem intenso. Para ver o nascimento e a morte de um indivíduo, é preciso ter muita força e um psicológico muito estável. Lidamos com gestores mal preparados, com falta de materiais, com infraestrutura precária e, ainda sim, tiramos o nosso melhor e entregamos a quem não conhecemos”, comenta Guilherme.
“Me sinto muito feliz em estar trabalhando em um hospital, poder colocar em prática meus estudos, claro que o curso não me preparou para iniciar em meio a uma pandemia. Muitas pessoas me questionaram isso, se não sinto medo por sem experiência estar em meio ao vírus, porém fico muito feliz em poder ajudar quem necessita, esse é um dos motivos de ter escolhido essa profissão” conta Giovanna, formada em dezembro de 2019.
“Sempre escolheria essa profissão. A enfermagem permite o cuidar do outro intensamente, e isso me torna melhor a cada dia”, enfatiza Jane, que recebe o apoio da colega Fernanda Serpa. Mesmo aconselhada pela mãe Adelaide a pedir a conta por causa dos riscos da pandemia, Fernanda também não se vê fora da enfermagem: “se todos fizessem isso, aí seria o caos; tenho amor pelas pessoas e quero ajudá-las”.
Desafios
“O principal desafio é se manter sadio, física e emocionalmente. Todo profissional se preocupa em contaminar a família. No trabalho, me preocupo se vai haver EPI.” O desabafo de Fernanda Serpa ganha eco nos corredores das demais unidades de saúde brasileiras. Conforme dados divulgados em 7 de abril, Dia Mundial da Saúde, só nas três semanas anteriores, o Cofen recebeu 2.900 denúncias de todo país de falta de equipamentos de proteção e uso de materiais inadequados para o atendimento aos pacientes.
“Além do risco de contaminação nossa e da nossa família, ficou a dúvida se realmente o sistema de saúde do Brasil tem condições de enfrentar todas as consequências que esse vírus trará: a superlotação em nossas instituições hospitalares, a falta de materiais e equipamentos, o alto número da taxa de mortalidade e o risco de um colapso no SUS”, analisa Guilherme.
“Estamos todos com os sentimentos meio bagunçados né. Bem no início dessa quarentena começar, uma colega minha já teve uma crise de ansiedade forte, não conseguia respirar direito. Acalmamos ela e seguimos o plantão. Tentamos manter as 12 horas da forma mais leve possível, descontraindo, rindo um pouco. Mas nem sempre é assim, vários funcionários choraram no plantão ou foram pra casa chorando, pensando no medo de pegar a doença ou transmitir pra quem ama”, conta Fernanda Puerari.
Para Jane, o maior desafio é ter atitudes positivas diante do que ela classifica como uma enxurrada de hipocrisia, ignorância e maldade. “Vemos pessoas tratando vidas como descartáveis. Tudo sendo valorizado, menos a vida.” Desde o dia 10 de março sem visitar a família, por conta da necessidade de distanciamento social, ela diz que tem vivido dias difíceis. “Poucos momentos de tranquilidade consigo com orações, música, filme, leituras e conversando por telefone com a família. Tenho que tranquilizá-los, então fico mais calma.”
Outro grande desafio, segundo os profissionais da saúde, é conscientizar a população sobre os perigos do coronavírus e das consequências de não tomar os devidos cuidados. “Quando a pandemia passar, e se realmente as projeções do Ministério da Saúde se confirmarem, teremos um sistema de saúde em colapso, sem recursos para garantir a assistência necessária à população”, alerta Guilherme, que divide suas preocupações com a esposa Daniela, enfermeira no Hospital Infantil Dr. Jeser Amarante Faria. A filha, Ana Cecília, tem dez meses. “Somos responsáveis por todos que estão em nossa volta.”
Em seu instagram, Fernanda Puerari fez um post que rendeu centenas de curtidas. Na foto, usando os EPIs de UTI, ela escreveu: “Infelizmente é necessário fazer esse texto para as pessoas que não estão respeitando a quarentena que o Brasil e o mundo estão passando. Ficar paramentada desta maneira pra atender seus pais, mães, tios, avós, filhos e entre outros não é confortável. Bem pelo contrário, a máscara machuca, deixa feridas, da dor de cabeça, coça, falta o ar que tantos estão lutando pra ter. Os pés incham, as mãos ressecam, os cabelos caem, as olheiras estão cada vez mais presentes. Sempre a mesma maratona de 12 horas por plantão, sem saber o que nos espera do início até o final. Por isso, você deve estar ciente do seu papel na sociedade para que pessoas como eu, que cuidam dos seus entes queridos, possam voltar pra casa em segurança e abraçar quem amam”.
Profissionais preparados
Apesar da Covid 19 ser uma doença nova e ainda com mais perguntas que respostas, os profissionais estão prontos para qualquer tipo de atuação em enfermagem. A garantia é da coordenadora do curso técnico em Enfermagem do Câmpus Joinville, Joanara Rozane da Fontoura Winters. “Os cuidados com o paciente grave e com o paciente em isolamento e os cuidados com os equipamentos de proteção valem para todas as doenças. E isso os alunos aprendem durante as fases do curso”, explica. “O conhecimento científico é fundamental para que o paciente seja bem assistido.”
Com 1.800 horas/aula divididas em quatro semestres de duração, o curso técnico em Enfermagem prepara os alunos para colaborarem com o atendimento das necessidades de saúde dos pacientes e comunidade, em todas as faixas etárias. Dentre as atribuições do técnico nos cuidados de enfermagem, estão curativos, administração de medicamentos e vacinas, nebulizações, banho de leito, mensuração antropométrica e verificação de sinais vitais, dentre outras.
“Nesse momento, muitos vão desanimar, muitos vão querer desistir, mas vocês sempre estarão na frente, prestando o cuidado humanizado, dando carinho, apoio aos que mais precisam”, enfatiza professora Joanara em recado aos profissionais da saúde. “Força, que todos iremos vencer essa pandemia”, encoraja.
Valorização da área da Enfermagem
Professora Vanessa Jardim conta que o momento é essencial para que todos percebam que, no sistema de saúde, todos são importantes. “Precisamos discutir políticas públicas de valorização dos profissionais de enfermagem, pois, apesar de serem essenciais, em termos de salário, costumam ter os valores não apenas mais baixos, mas com uma diferença absurda”.
Uma reportagem da BBC News Brasil traz uma pesquisa realizada pelo Cofen e Fiocruz em que aponta um total de 2,2 milhões de profissionais da área e traça um perfil deles: são mulheres, em sua maioria (85,1%), com crescente aumento de participação masculina. A maioria dos profissionais são pretos ou pardos (53%), seguido de brancos (41,5%).
Segundo a pesquisa, 17,8% da categoria recebiam "subsalários", ou menos de R$ 1 mil mensais na época do estudo, produzido em 2016 com dados de 2014. Até hoje, a categoria não tem piso salarial.
“Outra categoria subvalorizada é a dos trabalhadores de higienização e limpeza em hospitais. Uma das coisas que observamos com essa pandemia é que são profissionais que precisam de uma formação extra, tanto que, para um futuro próximo, estamos pensando na ideia de preparar um curso de qualificação para o setor”, conta Vanessa.
No IFSC
Para resguardar a saúde coletiva, o IFSC determinou a suspensão das aulas presenciais de todos os seus cursos no dia 15 de março. Já a suspensão das atividades presenciais dos servidores e dos atendimentos presenciais ao público se deu a partir do dia 17 de março. Desde então, servidores e alunos seguem com sua rotina de trabalho de forma virtual. O calendário acadêmico está mantido.
Conforme última portaria do Comitê Permanente de Gestão de Crises do IFSC, de 13 de abril, a suspensão das atividades presenciais na Reitoria e nos Câmpus do IFSC segue até 30 de abril. Como o último Decreto do Governo do Estado estabelece a suspensão das aulas, em qualquer esfera de ensino (municipal, estadual, federal ou privada), até 31 de maio, o assunto voltará à discussão do Comitê até o final desse mês.
Para acompanhar conteúdos sobre o coronavírus, acesse a página -> https://www.ifsc.edu.br/covid-19.