Sepei 2024: “A solução não está na ONU, mas no local”

SEPEI Data de Publicação: 21 ago 2024 09:42 Data de Atualização: 26 ago 2024 17:37

A abertura do 10º Seminário de Ensino, Pesquisa e Extensão (Sepei) na noite de terça-feira (20) em São Miguel do Oeste foi um momento de reflexão sobre como cada pessoa é impactada pelas mudanças climáticas e como cada um pode desenvolver iniciativas de combate à crise ambiental.

A ativista ambiental Amanda Costa apresentou a palestra “O papel da juventude brasileira no enfrentamento da crise climática”, introduzindo o tema central do evento, "Ampliando fronteiras: educação, ciência e tecnologia para a sustentabilidade". Amanda contou sua trajetória de estudante de Relações Internacionais e como se tornou empreendedora social e embaixadora da Organização das Nações Unidas (ONU).

A palestrante fez um relato sobre todos os eventos internacionais que participou como embaixadora da ONU e outras experiências internacionais. Ela decidiu começar a divulgar a pauta ambiental a partir da visão das comunidades periféricas quando se deu conta que as decisões centrais eram protagonizadas por “homens brancos, ricos, do Norte global, que estavam influenciando as negociações para falar como o mundo deveria resolver as mudanças climáticas, como o continente africano e a América Latina deveriam desenvolver políticas públicas, e eu pensei, por que esses países não estão sendo ouvidos?”. Assim, passou a atuar com outros jovens para que essas populações, dos países mais atingidos pela crise climática, também pudessem ser ouvidos, inclusive mulheres como ela, negras e periféricas.

Ela apresentou dados sobre desmatamento, uso da terra e emissão de gases de efeito estufa, e a necessidade de se criar um “modelo de desenvolvimento que não deixe ninguém para trás”. Também introduziu o conceito de “racismo ambiental”, em que as comunidades mais vulneráveis são as mais afetadas pelos eventos extremos. Por exemplo, em São Paulo, a expectativa de vida de um bairro pobre de São Paulo é 20 anos menor que a de uma pessoa que vive em um bairro de classe alta. 

O que você tem a ver com isso?

Durante sua fala, Amanda ouviu vários depoimentos da plateia, sobre como cada um é impactado pela crise climática e quais ações seriam importantes para as populações mais vulneráveis. Foram histórias e depoimentos de diversos câmpus, de todas as regiões do Estado.

Um desses depoimentos foi o da estudante do curso técnico integrado em Química do Câmpus Gaspar, Ana Clara Resende Fogaça. Ela contou durante a palestra que a crise ambiental sempre afetou sua família. A bisavó mudou-se do Nordeste para São Paulo devido à seca e depois a família transferiu-se para Santa Catarina, fugindo da violência e da poluição. Em 2008, quando ela tinha apenas um ano de idade, a família enfrentou as enchentes no Vale do Itajaí e perderam todos os bens, os móveis, inclusive o enxoval de bebê. Ninguém da família ficou ferido, mas foram muitos conhecidos que perderam familiares no desastre. “A minha história com as crises ambientais ela já se perpetua a muito tempo, infelizmente, e é algo que tem que mudar”. Sobre a palestra, afirma que “me fez pensar que a juventude tem que se posicionar, tem que ir para a rua, tem que ter voz, falar, porque se a gente não for pra rua, as pessoas não vão levar a sério uma coisa que está impactando a gente. Enquanto estão preocupados em colonizar Marte, as pessoas periféricas estão preocupadas em salvar o planeta que a gente já tem”.  Ana Clara está no Sepei apresentando projeto do Laboratório de Educação Ambiental (Labea) sobre “hotel de insetos” em áreas urbanizadas.

Assim, a partir dos depoimentos, Amanda instigou a plateia a refletir sobre “como a gente fala de clima, desenvolve projetos e cria iniciativas para além da nossa bolha?”. Para ela, participar de uma instituição de ensino como o IFSC é uma oportunidade para que os jovens adquiram o conhecimento científico e possam fazer esse conhecimento chegar a quem mais precisa.

A partir das histórias, instigou os estudantes a participarem da pauta ambiental das mais diferentes maneiras: participação em organizações não governamentais, movimentos sociais, comunicação, por meio das mídias sociais, e o papel da academia, desenvolvendo projetos, artigos, e as mais variadas iniciativas. “Pensando na minha história, quem eu era e de onde eu vim, não era para eu estar ocupando o espaço que eu estou hoje, mas este é só o começo”. Ela tem o sonho de democratizar a pauta ambiental para periferias e favelas, influenciando nas políticas públicas que não representam o povo. Segundo ela, “a solução não está na ONU, mas no local. Daqui a alguns anos seremos nós que estaremos tomando decisões”.

Boas-vindas ao Sepei

Antes da palestra da ativista ambiental Amanda Costa, foi realizada a cerimônia de abertura do evento. O diretor-geral do Câmpus São Miguel do Oeste Diego Albino Martins deu as boas-vindas a todos os participantes e destacou que este é o primeiro Sepei realizado no câmpus. “Somos um câmpus da fronteira e representamos muito bem o tema do evento, que é um lugar para levar o conhecimento a todos”. 

O estudante Felipe Belegante, representante discente no Colegiado do Câmpus São Miguel do Oeste, disse que o “Sepei é um momento para divulgar o que nós, estudantes, estamos fazendo, e trocar experiências com colegas de outros câmpus”.

Em sua fala, o reitor Maurício Gariba Júnior afirmou que o Sepei é “uma amostra de todo o potencial que o IFSC tem para mostrar para a comunidade os resultados extraordinários de ensino, pesquisa, extensão e inovação”. Segundo ele, “a necessidade de soluções sustentáveis nunca foi tão premente. As ideias discutidas aqui podem se transformar em ações concretas, que possamos transformar a sustentabilidade em um bem comum”.

Veja toda a programação e mais informações em www.ifsc.edu.br/sepei.

 

Veja a gravação da abertura do Sepei e a palestra da ativista Amanda Costa:

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