Professores de dois câmpus abordam captura e criação de abelhas sem ferrão em oficina no Sepei

SEPEI Data de Publicação: 21 ago 2024 15:17 Data de Atualização: 21 ago 2024 15:55

A confecção de ninhos-isca (um tipo de armadilha) para capturar abelhas sem ferrão foi tema de uma oficina ministrada no Seminário de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação do IFSC (Sepei) nesta quarta-feira, 21 de agosto, no Câmpus São Miguel do Oeste. Dois professores - Evandro Luís da Cunha, do câmpus anfitrião do evento, e Mário César Sedrez, do Câmpus Florianópolis - mostraram como criar esses dispositivos com materiais reaproveitados, como garrafas PET e sacolas plásticas.

As abelhas sem ferrão encontradas nas matas brasileiras são originárias aqui mesmo do Brasil - como as das espécies jataí, mandaçaia e mirim-guaçu -, enquanto as abelhas com ferrão são exóticas (da África e da Europa). Para capturar as abelhas nativas, como explicaram os professores do IFSC, pode-se criar um ninho-isca que simula um tronco de árvore oco, algo que esses insetos buscam na natureza para instalar suas colônias.

O tronco de árvore é simulado com uma garrafa de plástico PET comum (como as de água ou refrigerante), podendo também ser feito com um cano de PVC. Para fazer as abelhas entrarem nela, a garrafa é banhada internamente com um líquido cujo cheiro atrai os insetos - o “atrativo”, como chamam os especialistas -, que pode ser produzido com gel de própolis e álcool. 

A garrafa deve ser envolta em um plástico preto, para evitar que as abelhas fiquem expostas diretamente à luz do sol. Em sua ponta, pode ser instalada uma peça de cano curvada em formato da letra L, popularmente chamada de “joelho”, para dificultar a entrada de outros animais.

O ninho-isca pode ser colocado em qualquer terreno, sem necessidade de autorização de órgãos ambientais. É esperado que num prazo que pode variar de 30 a 90 dias as abelhas instalem-se nele e criem sua colônia, que depois deve ser transferida para as chamadas “caixa de abelha”, geralmente feitas de madeira, onde elas vão estabelecer a colmeia e produzir cera, mel e própolis.
 

Por que capturar abelhas?


Além da possibilidade de ganho comercial, a criação de abelhas em áreas urbanas e rurais tem se tornado um hobby cada vez mais comum, de acordo com o professor Evandro da Cunha, do Câmpus São Miguel do Oeste. 

“É algo que a gente observa que está crescendo. As pessoas criam abelhas com várias finalidades. Tem gente que produz para vender mel, tem gente que produz para consumo próprio [do mel e do própolis], para extrair própolis, tem gente que faz hidromel [uma bebida alcoólica fermentada]…”, exemplifica Evandro. Além disso, as próprias abelhas podem ser comercializadas com outros produtores.

Evandro é um exemplo de um apaixonado por abelhas, mesmo que essa não seja sua área de formação, pois é professor de Física. Ele cria abelhas desde os 10 anos de idade e desde 2022 coordena o projeto do meliponário do câmpus, instalado ao lado do ginásio. Meliponário é o local onde ficam colmeias de abelhas sem ferrão, enquanto o apiário é destinado àquelas com ferrão. 

O meliponário do Câmpus São Miguel do Oeste é um dos atrativos mostrados nas visitas de escolas ao câmpus e é usado em aulas de cursos como o técnico em Agropecuária ou a graduação em Agronomia. Além disso, já foi utilizado em projetos integradores de vários cursos do câmpus, mesmo os que não são do “agro”. Por exemplo, estudantes do técnico em Eletromecânica desenvolveram um sensor para monitorar a entrada e saídas das abelhas das caixas. 
 

Importância das abelhas


A meliponicultura, que é a criação de abelhas sem ferrão, pode ser realizada em diversos ambientes. Dependendo das características da espécie, até dentro de um apartamento, como Evandro já fez. No entanto, qualquer que seja o local em que elas sejam colocadas, são animais que precisam de cuidados para seu bem-estar, como a manutenção do conforto térmico e da luminosidade. 

Esses cuidados estão entre os conteúdos ministrados em oficinas de meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão) em escolas públicas da capital catarinense por meio do projeto coordenado pelo professor Mário Sedrez no Câmpus Florianópolis. A partir dessa iniciativa e do contato com os órgãos municipais, o projeto vai instalar um meliponário no Parque da Luz, uma área de lazer verde próxima à cabeceira insular da Ponte Hercílio Luz, e outro no bairro Pântano do Sul, na região sul da cidade.

Mário, que é professor de Biologia, também é apaixonado por abelhas, principalmente pela importância delas para o equilíbrio do meio ambiente. “O principal produto das abelhas é a polinização. Quem tem abelha sem ferrão beneficia toda a vizinhança por causa da polinização”, afirma. 

A polinização é a transferência de grãos de pólen do aparelho reprodutor masculino de uma planta para a parte reprodutora feminina da mesma planta ou de outra da mesma espécie - sempre lembrando que os órgãos reprodutivos das plantas são as flores. Essa transferência pode ocorrer por meio com o auxílio de outros seres vivos e, nesse caso, as abelhas se destacam, ao carregar grudados em seu corpo os grãos de pólen enquanto se movimentam de uma flor para a outra em busca de néctar, que o inseto usa como alimento. Na maioria dos ecossistemas mundiais, as abelhas são os principais polinizadores, de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), tendo papel fundamental na reprodução das plantas.
 

Interesse

 

A oficina teve a participação por aproximadamente 25 estudantes de vários câmpus do IFSC, dentre os quais alguns que estudam em cursos sem ligação direta com o tema. É o caso de Lorenzo Costa Porto, aluno do técnico integrado ao ensino médio em Informática do Câmpus Caçador. “Não temos nada disso [curso onde se estude a criação de abelhas] em nosso câmpus. A oficina foi muito massa”, resume, usando a gíria dos jovens para dizer que algo foi bom. Lorenzo também não tem nenhuma experiência com criação de abelhas, mas um tio dele que mora em São Paulo dedica-se a essa prática.

A oficina empolgou Lucas Rosa, estudante do técnico integrado em Administração também do Câmpus Caçador, que pretende falar com seus professores para elaborar algum projeto na área. Já para Maria Eduarda Dal-Ri, do técnico integrado em Agropecuária do Câmpus São Miguel do Oeste, a principal novidade foi saber mais sobre as abelhas nativas do Brasil. “Estudamos sobre abelhas em disciplina do curso, mas sobre as abelhas com ferrão. A oficina foi interessante porque eu não sabia muito sobre abelhas sem ferrão”, diz.

Além de assistir as explicações teóricas dos professores e conhecer o meliponário do câmpus, os participantes da oficina também confeccionaram em grupos alguns ninhos-isca com material reciclável.

 

Para saber mais


Mais informações sobre a produção dos ninhos-isca e as oficinas sobre meliponicultura em Florianópolis podem ser obtidas com o professor Mário Sedrez pelo e-mail mario.sedrez@ifsc.edu.br.

Interessados em conhecer o meliponário do Câmpus São Miguel do Oeste podem entrar em contato com o professor Evandro da Cunha pelo e-mail evandro.cunha@ifsc.edu.br

Para quem quer saber mais sobre a criação de abelhas sem ferrão, os professores ministrantes da oficina no Sepei indicam o curso de extensão em Meliponicultura do Câmpus Rio do Sul do Instituto Federal Catarinense (IFC), oferecido nas modalidades presencial e a distância. 

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