ENSINO Data de Publicação: 14 mai 2020 14:15 Data de Atualização: 06 out 2020 14:13
Por trás dos trabalhadores da linha de frente do combate à Covid-19 existe um profissional igualmente importante: o gestor da área de saúde. Se no dia a dia das instituições de saúde, o gestor já tem papel fundamental no planejamento, organização e gerenciamento dos processos de trabalho, especialmente agora o suporte profissional aos setores-fins para o enfrentamento à pandemia é ainda mais necessário.
“Cabe aos gestores da área da saúde desenvolver alternativas para preparar e ampliar a capacidade de atendimento, de forma rápida e organizada, para salvar o máximo possível de vidas”, enfatiza a coordenadora do curso superior de tecnologia em Gestão Hospitalar do Câmpus Joinville, Caroline Orlandi Brilinger. O curso de Gestão Hospitalar do IFSC é um dos quatro ofertados pela Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica no país.
Conforme professora Caroline, o maior desafio para os gestores hospitalares durante a pandemia, assim como em outras situações emergenciais em saúde, como acidentes com múltiplas vítimas ou em eventos de massa, desastres naturais e acidentes com materiais perigosos, por exemplo, é a desproporção entre os recursos necessários para prestar o atendimento essencial à população e os recursos existentes na rotina de atendimento.
Por isso, agilidade e organização são imprescindíveis. “Em situações críticas, na área assistencial, demorar a tomar uma decisão pode gerar danos irreversíveis ao paciente. Já na área administrativa, que é o meu caso, saber tomar a decisão mais acertada é fundamental, para que façamos nossas compras/contratações com segurança - dentro da legalidade, para que os serviços assistenciais tenham sempre à sua disposição os materiais necessários à prestação do serviço e para que o usuário dos serviços ofertados pela saúde do município tenham uma saúde pública de qualidade”, explica a coordenadora de Licitações na Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura de Joinville e no Hospital Municipal São José, Karla Borges Ghisi, que concluiu o curso de Gestão Hospitalar em 2013.
Adaptação às novas rotinas
Concursada há 17 anos na prefeitura como agente administrativo e coordenadora de Licitações há três anos, Karla teve que adaptar o trabalho às novas exigências impostas pelo combate à pandemia e mudar prioridades. “Compras e contratações específicas para combate à pandemia, como EPI’s [equipamentos de proteção individual] para os profissionais, testes rápidos e respiradores, por exemplo, são urgentes e precisamos tratá-las com a devida atenção”, conta Karla, lembrando que as demais compras e contratações não podem parar. “Então, é necessário motivar a equipe e gerenciar todos os processos para que consigamos dar conta de todas as demandas”, completa.
Para a coordenadora do Atendimento ao Beneficiário da Unimed Joinville, Priscila Oliveira Silva, a adaptação rápida da equipe ao novo cenário também foi primordial. “Apesar de não estarmos na linha de frente do combate à Covid-19, nossos processos são extremamente importantes e não podem parar. Tivemos que nos reinventar, pensar ‘fora da caixa’ e, sobretudo, superar diversos desafios e barreiras”, comenta Priscila, também da turma que concluiu o curso em 2013.
Priscila conta que, quando a quarentena foi instaurada, foi preciso estruturar a equipe para que todos ficassem seguros em suas casas, trabalhando na modalidade de home office. “Isso foi algo totalmente novo e desafiador, que, no início, gerou muitas dúvidas e dificuldades. Aos poucos todos foram se adaptando e, hoje, conseguimos executar as atividades sem causar nenhum prejuízo à operação da área. Além disso, a pandemia nos fez enxergar oportunidades que até então não imaginávamos serem possíveis”, complementa. Atualmente, a equipe trabalha em esquema de rodízio, com parte presencial e outra em trabalho remoto.
Ao contrária de Karla e Priscila, a colega de curso Karina Kempner atua na linha de frente do atendimento à saúde. Técnica em enfermagem (formada em 2008 e servidora da prefeitura desde 2010), a tecnóloga em gestão hospitalar assumiu a coordenação da Unidade Básica de Saúde com modelo de atenção Estratégia Saúde da Família (UBSF) Vila Nova no início da pandemia, no dia 1º de março.
“São muitos desafios! Costumo dizer que vamos planejando um dia por vez, dividido em manhã e tarde, pois são muitas mudanças, que precisam ser pensadas criteriosamente. O foco principal é manter a equipe segura, informada e pronta para trabalhar, para assim oferecer um melhor atendimento à população. Tenho sorte de ter uma equipe excelente e pronta pra enfrentar os desafios diários”, destaca Karina, que já havia trabalhado como técnica em enfermagem na UBSF Vila Nova, de janeiro de 2017 a junho de 2019.
Ela explica que uma das primeiras mudanças foi com relação ao fluxo de pacientes na unidade. “Tivemos que modificar a entrada na unidade, para que os pacientes, com sintomas respiratórios ou não, não fiquem no mesmo ambiente e permaneçam o mínimo possível na unidade. Conseguimos uma tenda, que deixamos na entrada lateral, para que os pacientes fiquem ao ar livre, em cadeiras com distanciamento de dois metros”, informa.
Importância da aprendizagem acadêmica
No curso de Gestão Hospitalar, os acadêmicos adquirem conhecimentos específicos sobre políticas públicas, gestão da produção, das finanças, de pessoas, de marketing e logística, que, segundo a coordenadora do curso, possibilitam uma visão ampliada das organizações e do sistema de saúde. “São itens imprescindíveis para o dimensionamento do impacto da crise e o desenvolvimento de soluções adequadas para o seu enfrentamento, primando pelo bom uso do recurso público”, enfatiza professora Caroline. “Nos estágios e na elaboração do trabalho de conclusão de curso (TCC), os alunos são instigados a confrontar a teoria e a prática, identificar e resolver problemas, demonstrando as habilidades e competências adquiridas durante o curso”, complementa.
Um conhecimento que faz toda diferença na atuação profissional de Karina, Karla, Priscila e todos os profissionais formados durante os dez anos de oferta do curso de Gestão Hospitalar no Câmpus Joinville, comemorados no ano passado. “A diversidade da grade curricular proporciona, mesmo que indiretamente, esse preparo. A partir do momento que tomamos conhecimento sobre as mais diversas nuances da área da saúde, ganhamos mais segurança para lidar com as adversidades”, declara Priscila Silva.
Segurança também é um quesito importante para a tecnóloga em gestão hospitalar Karla Ghisi. “Trabalhar no serviço público, tendo que otimizar recursos é um desafio diário. Nas situações de crise, o desafio toma proporções indimensionáveis. Estar estabilizada emocionalmente, ter segurança e autoconfiança são um diferencial. E isso só é possível devido ao conhecimento e preparo”, ressalta.
“O curso de Gestão Hospitalar tem matérias muito importantes para a formação do profissional que atua na administração em saúde. Tivemos a matéria Políticas Públicas de Saúde, que foi muito instrutiva, principalmente no que tange a leis e portarias, que são a base do nosso trabalho. Usamos Gestão de Pessoas para administrar os recursos humanos, nossa força de atendimento. Utilizamos também Gestão dos Recursos Materiais, pois os EPIs precisam ser utilizados corretamente, para que não ocorra falta de tais materiais tão importantes nesse momento”, exemplifica Karina Kempner.
Como coordenadora da UBSF Vila Nova, Karina também conta com os ensinamentos do curso técnico em Enfermagem, realizado quando o IFSC ainda era Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), para a tomada de decisões. “O técnico em enfermagem ensina muito sobre rotinas e técnicas na área da enfermagem, o que contribui significativamente na atuação como coordenadora, pois tenho uma visão diferenciada dos processos. Além disso, conhecer os setores da unidade (recepção, farmácia, vacina, triagem etc.) é primordial, para facilitar o trabalho dos colegas de equipe, refletindo assim no atendimento”, garante.
Sobre o curso
O curso superior de tecnologia em Gestão Hospitalar tem ingresso pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que usa as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). As inscrições para o Enem deste ano já estão abertas e vão até o dia 22 de maio.
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