CÂMPUS FLORIANÓPOLIS Data de Publicação: 24 jan 2022 14:55 Data de Atualização: 24 jan 2022 15:01
O Câmpus Florianópolis foi premiado na 16ª Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) na categoria de Ensino Médio (Nível 3) com mais de 621 estudantes inscritos. O desempenho leva em conta a pontuação dos estudantes participantes e premia as sete escolas com maior pontuação em cada categoria de todo o país.
João Antônio Espíndola Teixeira e Marcelo Augusto Vieira Lopes conquistaram as duas únicas medalhas de ouro obtidas por escolas públicas de ensino médio de Florianópolis. Em todo o Estado, foram 10 no total entre as escolas públicas, sendo 60% delas obtidas por estudantes do IFSC (além da medalha de ouro de João Antônio e Marcelo Augusto, outras quatro são de outros câmpus, confira a lista aqui).
Entre as escolas particulares (que desde 2017 também participam da OBMEP), Santa Catarina obteve apenas uma medalha de ouro no Nível 3. Confira os resultados aqui.
O Câmpus Florianópolis também se destaca entre os medalhistas de prata. Foram quatro das 11 conquistadas por estudantes do IFSC. Em todo o Estado, entre as escolas públicas, foram 27. Não houve medalhista de prata entre as escolas particulares catarinenses de Ensino Médio. Além disso, cinco estudantes do Câmpus Florianópolis obtiveram medalhas de bronze e 17 receberam menção honrosa.
Para o coordenador do projeto de extensão que orienta os estudos para as olimpíadas de Matemática, professor Fabiano Carlos Cidral, os bons resultados são sempre bem-vindos mas as medalhas e os prêmios não são o foco. “O projeto tem por objetivos incentivar e promover o estudo da matemática, identificar novos talentos e contribuir para a melhoria da qualidade da educação básica”, explica.
Além dele, participam do projeto os professores Adílson de Campos, Antônio João, Luiza Augusta Moreira Sorice e o professor aposentado Waldir de Souza.
Matemática além dos números
Como professor, as frases mais ouvidas por Cidral são as clássicas: “Eu odeio matemática” ou “Sou péssimo nisso”. “Muitos alunos, quando participam da OBMEP pela primeira vez, começam a se interessar pela matemática devido às características específicas da prova. E, uma vez que esse interesse é despertado, precisamos apenas incentivar e direcionar os estudos. Ficamos muito contentes e satisfeitos com os resultados dos nossos alunos. O mérito é todo deles”, orgulha-se Cidral.
Isso acontece porque as questões da OBMEP não são feitas para medir o conhecimento formal de Matemática. Muitas vezes, mais do que “decoreba”, os enunciados exigem apenas uma ideia criativa, um argumento elegante ou um raciocínio diferenciado. A prova é dividida em três níveis: 1 para os anos iniciais do Ensino Fundamental 1; 2 para os anos finais do Ensino Fundamental 2 e o nível 3 para estudantes do Ensino Médio. “Algumas questões se repetem nos três níveis e, frequentemente, alunos do nível 1 têm desempenho melhor do que alunos dos níveis 2 e 3”, lembra o professor.
E o desempenho acadêmico costuma melhorar com os treinos para as competições. “Tem uma frase do Einstein sobre matemática que eu adoro: A matemática não mente. Mente quem faz mau uso dela. A Matemática vai além dos números. Ela desenvolve nos alunos algumas habilidades como a sistematização e a generalização, que são fundamentais para a organização do pensamento. E o mais importante: a matemática é condição necessária para o exercício da cidadania”, defende Cidral.
Segundo os números do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, na sigla em inglês) de 2018, 68,1% dos estudantes brasileiros estão no pior nível de proficiência em matemática, ou seja, não possuem o nível mínimo para o exercício pleno da cidadania. Além disso, mais de 40% dos jovens que se encontram no nível básico de conhecimento são incapazes de resolver questões simples e rotineiras. “Como uma pessoa exercerá plenamente sua cidadania se ela é incapaz de verificar o troco ao comprar pão ou decidir racionalmente entre uma compra à vista com desconto ou uma compra a prazo?”, questiona o professor.
Para ele, a principal função do docente é “plantar” a semente da curiosidade pelo conhecimento. No caso específico da matemática, o professor deve apresentar as principais estratégias e os principais modelos abstratos utilizados na resolução de problemas. Cidral compara a capacidade de resolver problemas a uma caixa de ferramentas. “Cada um desses conhecimentos representa uma ferramenta na caixa do estudante. Quanto mais robusta e variada for essa caixa, maior a capacidade do aluno para resolver um problema. Não, por acaso, a indignação que os professores de matemática mais escutam nas aulas é: eu vejo o professor resolvendo um exercício e parece tão fácil; quando eu tento resolver um exercício parecido em casa, não consigo nem começar”.
Cidral segue a comparação explicando que isso acontece porque, na sala de aula, a caixa de ferramentas que está sendo utilizada é a do professor. Por outro lado, em casa, o aluno precisa utilizar as ferramentas que adquiriu e, assim, o êxito na resolução de problemas fica diretamente relacionado à capacidade de identificar a ferramenta correta em cada situação. E essa habilidade exige muita prática.
Segundo Cidral, a dificuldade com a matemática está no desequilíbrio das componentes relacionadas ao ensino da disciplina. “O ensino de matemática deve abranger três componentes fundamentais: a conceituação, a manipulação e a aplicação. O ensino de matemática na escola básica monopoliza a manipulação. Aliás, a presença da manipulação é tão marcante no nosso ensino que, para o público em geral e até mesmo para muitos professores e autores de livros didáticos, a matemática se resume a ela. Além disso, com a ausência da conceituação, os alunos simplesmente decoram fórmulas, algumas desnecessárias até, para resolver exercícios, muitas vezes, sem nenhuma relevância, com o único objetivo de passar para o próximo ano. Finalmente, a falta de aplicações para os conteúdos estudados em sala é o defeito mais grave do ensino de matemática. E o pior de tudo: esse defeito não poderá ser sanado enquanto não existir uma conceituação bem fundamentada”, diz o professor.