Alunos do Câmpus Urupema realizam visita técnica na Fortaleza do Pinhão

ENSINO Data de Publicação: 12 ago 2024 14:10 Data de Atualização: 12 ago 2024 14:27

Na última semana, além da visita técnica à Cervejaria Serra Forte, uma outra atividade de proximidade com o arranjo produtivo foi realizada pelo Câmpus Urupema. Desta vez, alunos dos cursos de Engenharia de Alimentos e Técnico em Agricultura fizeram uma visita técnica na Fortaleza do Pinhão, em Painel, município vizinho a Urupema. A atividade foi organizada pela professora Taiana Maria Deboni, em parceria com o Centro Vianei, e ocorreu na última segunda-feira (5). 

A Fortaleza do Pinhão é uma propriedade rural pautada na agroecologia. O objetivo foi os estudantes conhecerem um local de produção de pinhão e conversarem com produtores sobre os desafios da cadeia produtiva do pinhão e da elaboração de produtos alimentícios com pinhão. "Primeiramente, os proprietários do local nos levaram para uma caminhada junto às araucárias, onde foram comentando sobre a época e forma de colheita do pinhão, variedades existentes de pinhão e particularidades de cada uma delas, diferenças entre a araucária macho e fêmea, tempo e fatores envolvidos com o desenvolvimento do pinhão, período produtivo da araucária, produção média obtida de pinhas e pinhões, agentes competidores na produção, desafios para preservação da araucária e aumento de produção de pinhões, além de discutir sobre pesquisas que diferentes Instituições estão realizando na propriedade para manejo da produção", conta a professora Taiana. No local, são produzidas quatro variedades: São José, comum, kayuvá e macaco.

Posteriormente, o grupo seguiu para uma roda de conversa, onde foram apresentados a um produto desenvolvido na propriedade chamado “café de pinhão”. Explicaram todas as etapas de elaboração do produto e comentaram também os desafios para criação de uma Associação para elaboração de produtos com pinhão. A bebida, produzida por meio da torra e moagem do pinhão com açúcar mascavo, não é um café, mas recebeu esse apelido pela semelhança no visual do produto. "Os alunos e docentes realizaram uma série de questionamentos sobre a vivência prática na produção do pinhão e de seus derivados, como uso de debulhadeiras, formas de descascamento e congelamento utilizados, produção de pinhão orgânico e desafios encontrados em toda cadeia produtiva do pinhão. Os servidores e estudantes também puderam compartilhar alguns conhecimentos que possuíam na área", complementa a professora Taiana.

A professora avalia como muito positiva, especialmente pela disponibilidade dos produtores em compartilhar tantas informações referente ao que vivenciam com a produção do pinhão. "Os estudantes puderam complementar as atividades de ensino, aprimorando a compreensão sobre a cadeia produtiva do pinhão e seus desafios, puderam conhecer algumas iniciativas de pesquisa na área, importantes para criação de estratégias no aumento da produção e comprovaram a importância da interação entre comunidade e Instituição para sua formação, definição de projetos a serem realizados durante o curso e também para o desenvolvimento regional", completa Taiana.

Benefícios para o produtor

Jaison de Liz Rosa é proprietário da Fortaleza de Pinhão. Sobre receber alunos do Câmpus Lages do IFSC em sua propriedade, ele destaca que sempre incentiva esse tipo de iniciativa, pois enxerga nela uma forma de garantir a continuidade dos seus produtos. "O nosso futuro depende da formação dos alunos, sabe? Você mostrar uma realidade para os alunos que é vivida no campo, o sofrimento, a dificuldade que o agricultor tem, tu pode às vezes mudar o pensamento do aluno que está dentro da sala de aula. No campo, ele vai ter a vivência do agricultor, o que mais prejudica o agricultor e o que mais favorece", conta o produtor. Ele completa dizendo que os resultados dessa aproximação pode ser revertidos em mudar mentes e pensamentos de futuros professores e profissionais e, com isso, mudar políticas públicas que possam beneficiar os produtores.

Além disso, Jaison destaca que esse tipo de iniciativa traz uma perspectiva de futuro muito boa para a agricultura familiar. Com esses alunos do IFSC e com eles se formando, poderão interagir junto com o agricultor e acompanhar sua realidade, conhecer plantas e culturas diferentes. "Muitos alunos moram em grandes cidades ou cidades de outra cultura, de outra maneira de agricultura. Temos aí o pessoal do Paraná, por exemplo, que são mais grãos como soja e milho. Então, nós aqui já somos mais o extrativismo do pinhão, da erva mate, da criação do gado. Isso traz uma visão também dos alunos para outra realidade que não é a que eles convivem lá na cidade de origem deles, no estado de origem deles. Então eu acho bem interessante esse intercâmbio, essa demonstração daqui, da atividade daqui, como também seria interessante a atividade do pessoal daqui e conhecer também outras culturas, outras atividades em outros municípios", complementa o proprietário.

Sobre o "café de pinhão", Jaison conta que a tradição do produto começou com seu pai, que quando criança já tinha contato com a bebida feita por seu avô. Naquela época, o pinhão era socado em pilão de madeira e armazenado para consumo. Com o passar do tempo e a popularização do café industrializado, essa tradição se perdeu. "O pai sempre falava desse café, que era bom e que era bom de fazer e foi contando a história. Um ano atrás nós resolvemos começar o processo de resgate do café de pinhão e fizemos um pouquinho para experimentar, depois fizemos alguns testes e este ano a gente colocou um pouco mais em prática aumentando a divulgação", conta. Ele diz que pretende, para o próximo ano, colocar em alguns lugares para comercializar, como cafeterias e mercados. O preparo da bebida, conta Jaison, é feito com o pinhão cozido ou assado, descascado, cortado em pedaços pequenos, e depois torrado no forno por cerca de uma hora. Isso é feito até o pinhão escurecer, quase queimado. Depois, é torrado o açúcar, no caso o mascavo e orgânico. Com tudo isso, é triturado e feito o pó.

"Achei uma delícia!"

"Se não tivesse falado que era 'café de pinhão' pensaria que era o café normal". O relato é da estudante Eliane Aparecida dos Santos, aluna de Engenharia de Alimentos e está na primeira fase. Para além de experimentar a bebida, a acadêmica também destaca as outras atividades desenvolvidas. "Caminhamos pelo sítio, para vermos as árvores de araucária, foi a primeira vez que vi tantas juntas. Subimos um caminho bem íngreme, havia chovido na noite anterior, e o proprietário do sítio relatou sobre os tipos de pinhão existentes ali.", completa a aluna. Ela também lembra da importância de uma atividade como essa para o processo de ensino-aprendizagem dos alunos, que consegue tornar o conhecimento mais interessante e atrativo, aliando os estudos em sala com as atividades complementares práticas, como uma visita técnica. "A avaliação foi positiva, pois tudo que vem para acrescentar ao conhecimento é muito bom, já acabamos estudando um pouco sobre o pinhão: a importância, produção, variedades, valor nutricional, valor econômico", completa.

Outra aluna que participou da atividade foi Ana Carolina Lovatel, da primeira fase de Engenharia de Alimentos. O que mais lhe chamou atenção foi o pouco aproveitamento do pinhão na cadeia final, onde só se colhe 30% da produção, sendo os demais deixado para aves e animais silvestres. A pinha leva em torno de três anos para ficar pronta e os produtores têm pouca garantia de venda do produto. "A conversa foi muito produtiva, com muitas informações que só a vivência do dia a dia nos proporciona. Já havíamos realizado pesquisas na Internet mas nem se compara conversar com quem trabalha no dia a dia. A visita foi importantíssima, sei que existe dificuldade nessa logística, em função de transporte e tempo. Mas deveriam ter mais visitas, porque é muito enriquecedor", conta a aluna.

A aluna também destaca o papel do IFSC em proporcionar esse tipo de atividade aos alunos como complemento das atividades de sala e como prática que ajuda no processo de ensino e aprendizagem dos estudantes. O IFSC tem papel fundamental fazendo a ponte entre a pesquisa, produtor e sociedade. As instituições de ensino precisam acompanhar e relatar mais o dia a dia dos produtores rurais de matérias primas. Fazer com que essas informações sejam relatadas e passadas à sociedade. Assim como para os alunos verem que existe muita gente envolvida na cadeia produtiva até chegar nas mesas das famílias brasileiras", finaliza a estudante.

 

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