O que é dignidade menstrual?

BLOG DO IFSC Data de Publicação: 08 mar 2024 08:30 Data de Atualização: 27 mar 2024 11:40

Você já parou para pensar que, apesar de a menstruação acontecer todo mês para aproximadamente metade da população, nem todo mundo tem condições de passar por esse momento rotineiro com segurança? Pode parecer um pouco dramático para alguns, mas esses quatro a sete dias do mês podem se tornar um grande problema social e de saúde quando não se têm condições financeiras de comprar absorventes ou acesso ao saneamento básico.

É por isso que a pauta da dignidade menstrual é um tema tão importante: ela diz respeito ao direito das pessoas que menstruam - meninas, mulheres, homens trans e pessoas não binárias - de passarem por esse período com segurança e condições básicas de cuidado e de higiene. 

No post de hoje, Dia Internacional das Mulheres, nada mais justo do que trazer uma pauta tão importante e que tem tudo a ver com igualdade, não é mesmo?

Por isso, vamos te contar um pouco mais sobre o que significa Dignidade Menstrual, seus impactos e o projeto que está sendo lançado no IFSC hoje para garantir a saúde de quem menstrua e estuda aqui com a gente.

Vamos lá?

Por que dignidade menstrual?

Para começar essa conversa, é legal pensarmos que a dignidade menstrual não inclui só o acesso prático aos itens de higiene e de cuidado pessoal que auxiliam pessoas que menstruam. Essa questão vai além, pois também trata da educação e do acesso à informação sobre o próprio corpo e saúde, sem preconceitos nem tabus.

Sendo assim, é claro que uma instituição de ensino como o IFSC se interessa muito pelo assunto! Afinal, nossa missão é educar nossos estudantes e a comunidade que nos cerca, compartilhando informações que melhorem a vida das pessoas, o que certamente inclui pessoas que menstruam e seus corpos.

A ideia é que, trazendo luz para a questão da dignidade menstrual, nós consigamos derrubar pouco a pouco esse tabu (já que menstruar é algo tão normal, né?) e discutir, sem vergonha nem repressão, como ter mais qualidade de vida nesse período do mês para todas as pessoas que menstruam. Além de levarmos essas condições melhores até quem estuda aqui com a gente — que são um direito básico, segundo a ONU —, queremos também levar mais informação e a palavra do autocuidado. :)

-> Você sabia que o IFSC tem um comitê de Direitos Humanos?

Por que essa é uma questão social?

Ter vergonha de algo que é natural e que faz parte do seu corpo não deveria ser normal, mas infelizmente acontece com muita frequência. Muita gente ainda considera constrangedor, por exemplo, tirar um absorvente da bolsa em público ou passar por aquele imprevisto de o vazamento aparecer na roupa, uma vez que a menstruação ainda é vista como algo sujo e como um assunto a ser evitado. 

Há, inclusive, pessoas que passam pela primeira menstruação sem entender o que está acontecendo, o que torna esse um momento de muito medo e insegurança. ☹️

Então, se a nossa sociedade ainda reage a todas essas coisas de forma tão negativa, imagina como é precisar sair de casa para estudar ou trabalhar sem ter o básico para cuidar da própria higiene pessoal nesse período do mês? Essa situação pode levar estudantes a faltarem aulas, prejudicar a vida profissional de uma pessoa e até mesmo sua vida social.

É justamente aí que entra a dignidade menstrual como uma pauta social: no impacto desse tabu e da falta de acesso; uma vez que absorventes, calcinhas menstruais ou coletores pesam no bolso, afetando a vida de muitas pessoas econômica e socialmente. Ter condições mais humanas de cuidado durante esse período significa ter mais segurança em relação ao próprio corpo frente às situações sociais do cotidiano.

-> Vamos conversar sobre saúde mental?

E por que é uma questão de saúde?

Além dessas repercussões sociais e psicológicas, a pobreza menstrual também compromete questões de higiene, o que pode significar uma fragilidade para a saúde de quem menstrua. Sendo a menstruação uma parte importante do sistema reprodutor, a forma como o autocuidado acontece nesse período tem muitos impactos e precisa de condições mínimas, como por exemplo o acesso a água encanada, algo que não chega para todas as camadas da população.

Para te contar um pouquinho mais sobre como a dignidade menstrual é importante nesse aspecto, nós conversamos com a professora Juliana Jacques da Costa Monguilhott, que é doutora em Enfermagem e tem experiência na atenção à saúde da mulher e do recém-nascido. A Juliana é professora no Departamento Acadêmico de Saúde e Serviço (DASS) do Câmpus Florianópolis. Ela nos contou um pouco mais sobre os impactos dos cuidados durante o período menstrual para a saúde íntima que afetam, segundo ela, “desde a prevenção de infecções até o monitoramento da saúde reprodutiva, como o espaçamento ou o planejamento de uma gestação”:

"A falta de acesso aos materiais adequados pode levar algumas pessoas a procurar alternativas baratas e que podem trazer sérios danos à saúde física, como irritações, alergias e até infecções graves".

-> Você sabe a diferença entre vírus, bactérias e fungos?

Para prevenir esses problemas, ela recomendou alguns cuidados que precisam fazer parte dessa rotina, como manter uma boa higiene, escolher produtos adequados e estar sempre de olho em alterações no ciclo menstrual. Os absorventes precisam ser trocados regularmente, com as mãos limpas antes e depois da troca e limpeza da área genital. Os produtos utilizados também precisam ser de materiais adequados e hipoalergênicos para prevenir irritações e infecções. Juliana também frisa que “o contato prolongado da pele com o sangue menstrual pode levar a irritações ou dermatites, sendo importante manter a área genital limpa e seca, e usar produtos suaves e sem fragrância.”

Embora aqui a gente tenha focado bastante no aspecto físico da saúde, o conforto emocional também é muito importante! E a professora Juliana falou sobre isso também, recomendando a aplicação de calor na região abdominal e o uso de analgésicos para aliviar cólicas, além do descanso e do uso de técnicas de relaxamento para suavizar os sintomas.

Como reconhecer que essa rotina não está sendo boa para a saúde?

A gente sabe que a vida de estudante pode ser bem corrida e nem sempre fazemos o ideal para cuidar do nosso corpo. Mas quando saber que não estamos cuidando bem da higiene menstrual?

Segundo a Juliana, alguns dos sinais que o corpo apresenta nesse caso são alterações no padrão menstrual, períodos irregulares, sangramento excessivo ou dor intensa. Qualquer um desses sintomas precisam ser observados e levados ao médico para prevenir doenças como endometriose, miomas uterinos ou desequilíbrios hormonais.

Quais os principais pontos a considerar na escolha entre absorventes, calcinhas menstruais e coletores?

Apesar de ser uma solução bem prática, os absorventes descartáveis produzem uma grande quantidade de lixo, o que abriu espaço recentemente para outras opções ambientalmente mais sustentáveis. Duas delas, as mais famosas, são as calcinhas menstruais e os coletores, ambos reutilizáveis e laváveis. O que é ótimo para o meio ambiente!

Nós conversamos com a Juliana sobre isso. Afinal, do ponto de vista da higiene, qual é a melhor escolha? De acordo com ela, é legal pensar na absorção do produto e regularidade das trocas, no material, na facilidade de limpeza e na prevenção de vazamentos para decidir qual a melhor opção para cada pessoa. Tudo isso para evitar o acúmulo de sangue, que pode causar odores desagradáveis e infecções. Ela trouxe ainda algumas dicas para cada um deles:

  1. Absorventes: devem ser trocados a cada 4 a 6 horas, dependendo do fluxo menstrual. São fáceis de usar, por serem descartáveis. Devem ter uma boa capacidade de absorção e ajuste adequado para evitar vazamentos.
  2. Calcinhas menstruais: devem ser trocadas conforme necessário, geralmente a cada 6 a 12 horas, dependendo do fluxo. É importante lavar as calcinhas a cada uso. As calcinhas devem ter camadas absorventes eficazes e uma barreira à prova de vazamentos.
  3. Coletores: podem ser esvaziados a cada 8 a 12 horas, dependendo do fluxo menstrual, sendo necessário lavar a cada uso. Para manter os produtos limpos e higiênicos, recomenda-se seguir as instruções de cuidados do fabricante. Devem ser inseridos corretamente para garantir maior proteção contra vazamentos.

Vale lembrar que os materiais devem ser sempre respiráveis, permitindo a circulação do ar e evitando a umidade excessiva. Materiais sintéticos ou com fragrâncias adicionadas podem provocar irritações, e também devem ser evitados.

A higiene das alternativas reutilizáveis, como os coletores, envolve ainda a questão do saneamento: a troca e lavagem dos copinhos ou calcinhas menstruais precisa ser feita com água tratada para prevenir contaminação e infecções. Por isso, apesar de ser uma alternativa mais sustentável e barata a longo prazo, ela pode não ser acessível a todas as pessoas, uma vez que no Brasil parte da população ainda não tem acesso a água tratada e condições de saneamento mais seguras.

Juliana também nos lembra que o conforto é um fator muito importante, sendo esse um ponto positivo das calcinhas e coletores, que dão mais liberdade em comparação aos absorventes descartáveis. Cada pessoa se ajusta de maneira diferente com cada uma dessas opções.

Ao contrário do que se temia quando eles começaram a aparecer no mercado, a professora nos contou que “estudos demonstram que o coletor menstrual não oferece riscos de infecções e possui grande aceitabilidade entre as mulheres, tornando-se sua preferência em detrimento de outros métodos de higiene utilizados anteriormente.”

-> Confira algumas dicas de sustentabilidade

Com tantas opções no mercado, volta a questão da dignidade menstrual: todas as pessoas têm o direito de acesso a alguma delas para passar por esse período com mais conforto e segurança. Para garantir isso, vamos falar em seguida de dois programas pensados justamente para essa questão.

Você sabia que pode receber absorventes gratuitamente pelo SUS?

No Dia da Mulher do ano passado (2023), o Governo Federal criou, por meio do Decreto nº 11.432, o Programa Dignidade Menstrual. A ideia é garantir a distribuição gratuita de absorventes higiênicos e desenvolver ações educativas sobre esse tema para que, além de seu resultado mais direto e prático de distribuição, exista também uma maior equidade de gênero, justiça social e direitos humanos.

Por isso, desde janeiro deste ano, o Sistema Único de Saúde (SUS) distribui absorventes gratuitamente para pessoas que menstruam entre 10 e 49 anos de idade inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) e que se enquadrem em ao menos um dos critérios definidos pelo programa: 

  • Estar matriculado em uma escola pública, tendo renda familiar de até meio salário mínimo;
  • Estar em situação de vulnerabilidade social extrema, com renda mensal de até R$ 218;
  • Estar em situação de rua.

Se você se encaixa em alguns desses critérios, confira o vídeo lançado pela campanha que conta o passo a passo para conseguir participar:

Conheça o projeto de Dignidade Menstrual do IFSC

Já o projeto do IFSC, que veio para complementar o programa federal, é um pouco mais abrangente (e mais próximo de você! <3). Nele, não há limite de renda para quem tem acesso ao kit menstrual. A partir de hoje, dia 08 de março de 2024, estudantes do IFSC que menstruam podem verificar no seu câmpus a disponibilidade de kits menstruais para manter a saúde, higiene e dignidade menstrual.

-> Saiba mais sobre o programa no IFSC

Cada kit terá três pacotes, com dezesseis unidades de absorventes higiênicos cada, e você poderá retirar um kit a cada dois meses. Claro que, como os recursos infelizmente não são infinitos, há alguns critérios que nós pensamos para fazer com que esses kits cheguem a todas as pessoas que mais precisam deles!

Para entender melhor sobre como funciona e como participar, você pode dar uma olhadinha na página do programa, nesse link aqui.

Quem pode participar?

Se você tem o perfil socioeconômico para ter acesso aos absorventes pelo SUS, nossa recomendação é que você siga os passos que indicamos na seção anterior para adquirir um kit no SUS. Porém, se esse não é o seu caso, você pode pedir um kit no seu câmpus do IFSC, caso ele seja um dos câmpus participantes do programa institucional.

A prioridade para receber os kits será daquelas pessoas em situação socioeconômica mais vulnerável, considerando a realidade de quem estuda em cada câmpus, é claro!

O mais importante: tudo isso acontecerá com orientações acolhedoras e educativas, visando seu bem estar! 🥰

-> Deixa o IFSC cuidar de você: motivos pelos quais somos como uma mãe

Ficou com alguma dúvida?

Nunca se esqueça que você pode tirar suas dúvidas sobre esse e outros programas de assistência estudantil aqui do IFSC sempre que precisar! Para isso, você pode contar com nossos setores de Assistência Estudantil ou Coordenadoria Pedagógica do seu câmpus.

-> Veja aqui os contatos dos setores de atendimento aos estudantes nos câmpus

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